Frente à crise societária e ao esgotamento do paradigma que orientou tantos projetos de modernização da sociedade brasileira, Ana Clara Torres Ribeiro nos orientava a ter uma escuta sensível para sujeitos pouco visibilizados pela ciência. Seu pensamento revela como é indispensável valorizar o tempo-espaço da ação das classes populares. Compreendemos que esta valorização é necessária ao delineamento de caminhos para o diálogo interclassista. Sem este diálogo, não é difícil prever o contínuo aumento da violência no cotidiano urbano. Por esta razão, enfatizamos que a análise dos movimentos sociais – das formas de organização social que correspondem a nítidas mudanças em orientações políticas – precisa ser articulada à dinâmica de práticas sociais marcadas pela fugacidade e pela transitoriedade. Ana Clara tecia cartografias das escutas do Outro, das resistências e das insurgências. Cartografias das ações, que são grafias da vida coletiva em movimento. A proposta é visibilizar esta mudança epistemológica, dirigida à reflexão do espaço banal (Santos,1996), que aproxima a problemática do espaço do estudo da ação que mobiliza recursos, pouco conhecidos e visíveis, preservados no tecido social. Um conjunto de estudos que valorizam vínculos sociais construídos a partir da dimensão do real que Milton Santos (1999) denominou de território usado. Esta dimensão constitui uma particular manifestação da agência humana, inscrita no cotidiano e no lugar. Diferentemente das leituras clássicas do território orientadas pela geopolítica, hoje atualizadas pela logística, o território usado exige a inclusão de todos. A opção analítica pelo território usado surgiu como um desdobramento necessário da pesquisa desenvolvida pelo LASTRO (IPPUR/UFRJ) sobre conflitos, protestos e reivindicações em contextos metropolitanos. A reflexão sistemática da ação social, desenvolvida através da conjugação da informação da imprensa a técnicas qualitativas de pesquisa, possibilitou o reconhecimento de novos processos de organização que transformam sentidos e, logo, a direção de lutas pela apropriação do espaço urbano.
Interno: Discentes, tecnicos(as) e docentes.
Externo: Discentes, docentes, integrantes de movimentos sociais.